Era uma vez, uma casa toda colorida, cheia de flores, num jardim muito bem cuidado. Dentro da casa viviam alguns objetos diferentes, estranhos até. Não pelas formas que possuíam, mas porque comunicavam-se entre si.
Todos sempre disputavam para saber que tinha mais brilho, quem iluminava mais todos os ambientes da casa – enfim, era uma briga diária.
O Cara de Lâmpada, muito enlouquecido, com um dente e olhos muito puxados, gritava do alto do teto, com voz rouca e pastosa:
- Eu sei que sou o mais brilhante, o mais iluminado, pois, daqui ilumino todo o ambiente!
O Mestre Abajur, que morava há mais tempo na casa, sorria debochadamente e resmungava de cima do armário onde ficava.
- Humpf! Este idiota acha que por viver lá em cima, é melhor que nós. Mas, ele esquece que pode cair e quebrar.
- O que o Senhor está resmungando aí, Mestre Abajur? Fale mais alto para que todos possam ouvi-lo – falou, inesperadamente, Dona Lareira Fogosa.
Mas, Mestre Abajur, já dirigia sua atenção para as Gêmeas Incandescentes, que pareciam tristes, meio apagadinhas, no corredor da casa.
- Qual o problema meninas? Vocês estão tão caladinhas. O que há?
- Ah, Mestre Abajur, vocês ficam discutindo quem brilha mais; quem mais isso, quem mais aquilo...e esquecem que nós não vivemos uma sem a outra. Se eu apago, ela também apaga; então, não podemos ficar, como vocês, disputando o brilho da casa.
- Ora, queridas, não fiquem assim. O Cara de Lâmpada e o Mestre Abajur são meio malucos. Se pararmos para pensar, nenhum de nós brilha mais que o outro – falou Dona Lareira, muito sábia na sua observação.
Todos gritaram ao mesmo tempo.
- Não, eu sou o melhor. Eu. Eu.
De repente, um estrondo e tudo ficou escuro. Nenhum som, nada se ouvia. A única claridade que entrava na casa vinha da rua. Do céu.
Assustados, perguntavam uns aos outros:
- O que houve? – disse o Cara de Lâmpada.
- Não sei – falaram as Gêmeas.
- Eu também não sei, mas estou todo arrepiado – disse o Mestre Abajur.
- E eu estou sentindo um frio aqui neste cantinho sempre tão quentinho – sussurrou Dona Lareira, com suas chamas apagadas.
Então, uma bela voz se fez ouvir, por entre as nuvens daquela fria noite de inverno.
- Nada de extraordinário aconteceu. Apenas, quis mostrar a todos vocês que, sem energia, as lâmpadas não iluminam nada e, com uma brisa mais forte, o fogo que vem da lareira, apaga.
- Mas, quem é você, que mesmo sem energia e com todo o vento que existir, continua brilhando? – perguntou Mestre Abajur , encolhidinho no seu armário.
- Eu?? Sou a Lua. Sempre brilhante, iluminando a escuridão da noite.
Todos, surpresos, falaram em coro:
- Ohhhhhhh!!!!
As Gêmeas mais animadas, disseram:
- Agora, sabemos quem brilha mais
- É, e daqui prá frente, não disputaremos para saber quem é o melhor – falou Cara de Lâmpada, com um grande suspiro de satisfação.
- Isso mesmo. E, vamos ficar muito mais amigos, agora – gritou Dona Lareira.
Então, como mágica, todos voltaram a ficar acesos, iluminados: Cara de Lâmpada, Mestre Abajur, as Gêmeas e Dona Lareira – todos com um brilho muito mais intenso.
Dona Lua, feliz, mostrou a eles que a vaidade entre amigos não faz bem.
O que vale é a amizade verdadeira e sincera.
(17/11/1997)
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