sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Identidades Falsas


Ainda em Rivera, começamos a imaginar que teríamos que fazer identidades falsas para não ultrapassar a famigerada cota de 300 dólares e, depois de um jantar regado a taças e taças de Freixenet – espumante maravilhoso, a coisa começou a se formar em nossas cabeças. Primeiro, minha amiga que é mulata, olhos redondos e bem abertos, rosto com sardas, disse que faria uma identidade falsa com nacionalidade japonesa. E, daí, desenvolveu-se a cena:


Identidade Japonesa:

- A senhora é japonesa? – perguntaria a vendedora.

- Sim. Sou. (Meio titubeante a resposta.)

A vendedora com dois olhos de dúvidas imensos, fica olhando, sem reação. Minha amiga, muito esperta, sai logo com a explicação.

- No último terremoto que Japão sofreu, o susto foi grande. Você já sentiu terra tremer? Não?? Nem deseje passar por isso. Eu era gueixa, sabe??? Quando o tremor começou, o susto me fez arregalar os olhos demais e fiquei assim, sem conseguir fechá-los novamente; minha pele era bem branquinha, sem manchas e, com toda aquela fuligem no ar, dos incêndios e fumaça que saía dos prédios, mudei completamente: fiquei cheia de sardas, mais morena e meus cabelos se rebelaram. Meus pés, então, nem se fala....Viviam apertados naqueles sapatos feitos para deixar nossos pés bem pequeninos e, com o susto que levei, explodiram meus sapatos e agora, calço 36 ou 37, às vezes, dependendo da forma e marca do calçado. Vim para o Brasil para fugir de tudo aquilo e não quero mais voltar. Sou livre, leve e cheia de graça como toda boa brasileira. Agora, entendeu porque minha foto é diferente na identidade? Não sou assim de nascença, na verdade, renasci de um susto.

Identidade Sueca:

- A senhora é sueca?

- Sim. Sou. (Meio titubeante a resposta.)

A vendedora com dois olhos de dúvidas imensos, etc.etc.etc..................................................

- Quando eu tirava leite das vacas que meu pai criava, para fazer chocolate, uma delas me deu uma patada, que acabou deformando meu rosto. Vim para o Brasil tentar consertar o estrago e, acabei pegando muito sol e fiquei assim: os cabelos se rebelaram com a água salgada do mar, minha pele começou a avermelhar, avermelhar e acabei ficando com cor de cuia que ainda não foi usada e, de tanto ficar sentada ordenhando vacas, quando cheguei aqui, recebi um choque enorme na minha postura: perdi altura e ganhei peso. É isso. Essa, na foto, sou euzinha mesmo. Se alguém tem culpa disso, é a vaca.

Já imaginaram o sucesso que as identidades falsas fariam??? Boas risadas renderiam, com certeza.....rsrsrsrsrsr



Meias em Rivera

Fui a Rivera com uma amiga – meio que “mula” dela e, como foi minha primeira experiência, fiquei  fascinada por aquele paraíso de odores maravilhosos que saía a cada porta de loja que passávamos. Mas, ao mesmo tempo, do lado de fora, éramos atropeladas – a todo momento, por vendedores ávidos em nos enfiar goela abaixo pares e mais pares de meias, de uma forma insistente, cansativa e desagradável. A pergunta que surgia em  minha cabeça, a cada um que chegava chegando repleto de meias, era: “34 graus...usar meia aonde com esse calor?”. Como isso aconteceu o tempo todo, começamos a levantar algumas possibilidades para tanto desespero e falta de noção: as meias eram feitas de cocaína e, nosso lado CSI começou a imaginar situações, tipo, compraríamos as meias e, na Receita Federal, nos fariam descer e  meias seriam colocadas em bacias com água morna para testes de presença de coca e, claro, nos ferraríamos porque as meias seriam todas feitas da droga, a mais pura e, como explicaríamos isso? Outras situação, seria o ar condicionado do ônibus estar hiper-super-muito gelado e colocarmos as meias para aquecer nossos pés, sair para andar um pouco no corredor esticando as pernas  e o tapete do ônibus ficar todo marcado de branco com o desenho dos nossos pés....quanta loucura, não?? Afinal, qual seria o objetivo de venderem meias feitas de cocaína para pessoas que apenas usariam as meias em seu lugar de uso: os pés. Viagem pura a nossa.  Mas, claro que perguntamos por que vendiam tantas meias e responderam que era o ganha-pão deles, que era melhor que roubar...Mas, a explicação não convenceu e voltamos para casa com a pulga atrás da orelha, desconfiando que, de alguma maneira, aquelas meias conseguiam atravessar as fronteiras e fazer com que pessoas desavisadas andassem desfilando pó branco por aí e, misturada a essa ignorância, muito chulé também. Quando a imaginação é fértil, sobram insinuações e muita diversão.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Relacionamentos: Bônus e Ônus


Quando chegamos a uma certa idade - muitas vezes, sem a maturidade necessária para aceitar que já estamos em um patamar evolutivo, onde pensamos mais nas conseqüências de nossas ações e, por isso, deixamos de fazer algumas coisas que gostaríamos de fazer, fica difícil aceitar certas atitudes, certas coisas  que a vida resolve nos presentear. Fomos criadas para amar e ser amadas, para constituir família e, como em um conto de fadas, termos o final feliz de toda e qualquer princesa que preze sua coroa, seu lado mais frágil, o lado, digamos, mulherzinha. Mas, os tempos modernos fazem com que a necessidade de ir à luta, de buscar a tão desejada independência, de crescer sabendo o que se quer, faz com que esses sonhos acabem ficando em segundo plano, onde o que importa é o “ter agora”, é o viver o presente; é ter o poder da escolha: ficar em uma relação que não me satisfaz ou ficar sozinha e dar a cara a tapa, me sentir realizada? Nossas mães não passaram por isso, porque as escolhas não existiam. As famílias já tinham traçado seus planos e, se quisessem mudar algo, a coisa ficava meio feia, mas, nada que não pudesse ser resolvido de maneira pacífica – se os pais, claro, tivessem um pouquinho que fosse,  a mente aberta.   Algumas mulheres passaram por cima desses esquemas já formados, e conseguiram trabalhar, constituir família, criar seus filhos e cuidar da casa – minha mãe foi um exemplo disso - e, acabaram sendo a base familiar, trabalhando lado a lado com seus maridos e mudando a visão de que a força aceitável da casa era a do homem. Mas, o que quero falar mesmo é que, depois de uma certa idade, começamos a desconfiar até da nossa sombra quando o assunto é relacionamento. Toda relação vai ter seu bônus e seu ônus, claro. O bônus será ter alguém ao seu lado, acordar e ver que aqueles braços de ontem, ainda estão ao redor do seu corpo e não foram apenas abraços fortuitos, daqueles que acabam no meio da madrugada e, você, sozinha na manhã seguinte, sabendo que nunca mais verá aquela pessoa novamente. Esse bônus, te traz um pouco mais de segurança,  mostra que ainda pode existir romantismo, companheirismo e alegrias em uma relação madura, onde ambos concordam em fazer concessões, dar espaço, não atropelar o tempo do outro. E,  isso nos deixa leves, bobas e encantadas. Mas, o ônus, chega e, de repente, o coração que se desenhava em nossos olhos a cada novo encontro, torna-se pontos de interrogação, porque, dentro de uma relação, depois dos 40, existem dois passados: o dele e o seu, então, existem muitas outras coisas agregadas a cada um, existem outras histórias, outras pessoas e, nesse momento, nossa maturidade precisa entrar em ação, nossa paciência começa a ser testada e nossa segurança em relação ao romance, fica balançada. O que fazer? Não sei. Estou fugindo dos romances, dos envolvimentos – pode parecer cínico e debochado para minhas amigas que  estão envolvidas com alguém, ou,  para aquelas que querem alguém para se enrolar, mas, fico pensando no que dizer, no que aconselhar.  Sou metida e, não é porque não tenho ninguém e nem procuro por tal, que não posso ter opinião ou dar um conselhinho básico, não é?? Acho que quando pinta o “ônus” da relação, o diálogo, a cumplicidade tem que aparecer e, de maneira saudável, educada e verdadeira, colocar as dúvidas, os receios, as coisas mais bobas que surgirem, na mesa; se tiver que cobrar postura, cobre; se tiver que cobrar respostas, cobre; se tiver que chorar, chore, mas, não deixe de abrir seu coração, de permitir que o romance entre em sua vida, pois, se duas pessoas estão juntas, se ambas se encontraram em um momento de distração, é porque o universo conspirou prá isso e quer que essa relação aconteça. Se o caminho for meio pedregoso, o diálogo vai destruindo essas pedras e, se for para dar certo, a estrada até poderá não ser de tijolos amarelos, mas, certamente, será feita de paixão, retas e curvas de entrega e, no final, quem sabe esse sapinho não vira o príncipe que você tanto leu nas estórias de final feliz? Só que com ambos dividindo os bônus dessa relação.