quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pagode na Lotação

Gosto de música. Não tenho um estilo específico – gosto do que me faz bem ao ouvido, daquilo que faz meu pé acompanhar o ritmo que está sendo tocado, daquele som que embala meu coração e me leva a momentos passados (mesmo que a música não tenha sido o tema de nenhum desses momentos); enfim, nada que faça meu ouvido sangrar. Mas, hoje, meus ouvidos sangraram, senti náuseas e calafrios quando, às 07h20min da manhã, adentrei em uma lotação ao som de um pagodaço – o som não estava baixo a ponto de não se ouvir, nem tão alto que me fizesse “apear” correndo e ir caminhando até o centro. Na verdade, estava na medida certa para que o arrependimento por não ter “ainda” comprado um “MP qualquer número” batesse furiosamente na minha consciência – enquanto o som rolava, minha mente dizia: bemfeito, bemfeito,bemfeito...assim, as duas palavrinhas bem grudadinhas para um efeito melhor. O motorista, alheio ao meu desespero, dirigia bem faceiro, curtindo o som do grupo que tocava – me desculpem os apaixonados pelo estilo, mas, no pagode e no axé, todos os “cantores” têm a mesma voz e a batida tem o mesmo ritmo; ele parecia estar fora do mundo em que eu lutava desesperadamente para ignorar e estava feliz e, mesmo sentindo uma vontade imensa de levantar e pedir ao jovem condutor que baixasse um pouco mais o som do CD, pois pagando R$ 4,00 me achava no direito de pedir isso, pesou o pensamento no estress que ele enfrenta no trânsito, dos motoristas malucos que o desafiam diariamente e, cheguei a conclusão de que esse, de repente, era o momento feliz dele. Então, se as músicas o ajudavam a desempenhar melhor o trabalho, era melhor eu desviar meu pensamento e me deixar entrar no pagode (mentalmente falando, ok?); deixei o ritmo me envolver e, acabei tendo uma visão de mim mesma vestindo um micro short branco, um top bem top mesmo, saltão, sorrisão no rosto e olhar de quem está avulso na festa – nesse devaneio estou lindona ( e, essa parte agradeço ao ritmo que sangrou meu ouvido). E, até meu desembarque, fingi que esse era, também, o meu mundinho; mas, sinceramente, pela primeira vez, voltar ao mundo real foi muito bom!
PS.: No retorno para casa, MAIS pagode, em outra lotação. Ninguém merece essa dose cavalar de “bom gosto e ritmo” num mesmo dia!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Novo desafio em 2011

A Secretaria na qual  trabalho, desde os 19 anos, foi extinta em meados de dezembro de 2010. Quando os boatos surgiram, ninguém deu muita importância, pois, a cada troca de governo as novidades surgem e as conversas de corredor ficam mais acirradas e aumentadas em muitos pontos. Mas, para provar que todo boato tem um fundamento, ele se concretizou na divisão da Secretaria em duas novas Pastas estaduais. E, diante da mudança óbvia, fiquei lembrando das coisas que passei na minha velha Secretaria: lembrei dos colegas que já se foram; daqueles que resistiram em pedir aposentadoria, mas, foram vencidos pelo cansaço e pela falta de perspectivas; dos colegas que fizeram da Secretaria a continuação de suas casas, trazendo seus problemas dentro das bolsas/bolsos e tentando achar as soluções nos ombros de outros colegas. Lembrei que, aqui, além de alguns desafetos, fiz grandes e sinceros amigos; descobri que a vida é dura com quem a desafia; descobri que pessoas que se mostram duronas, na verdade, são as mais fracas e menos corajosas; encontrei um pouco de mim em algumas pessoas com quem cruzei e, certamente, deixei um pouco de mim em algumas delas, também. Aprendi a lidar com meus medos, a clarear minhas dúvidas, a conhecer meus limites; na verdade, a Secretaria me fez crescer, me fez ver o mundo com outros olhos, fez amadurecer meus pensamentos e decidir muitos passos. Foram anos legais, que, na verdade, nos prepararam para essas novas mudanças, para essa brusca chegada de um novo momento na vida de cada um que ainda resiste por aqui e que, hoje, tenta se encontrar nessa “confusão secretarial” em que nos colocaram. A Secretaria original pode ter sido extinta, mas, sua essência continuará existindo em cada “antigo” funcionário que dela continuar fazendo parte, dentro dessa nova organização que nasce. Boa sorte a todos nós que, mesmo não fazendo parte dos BBBs da vida, somos grandes e valentes guerreiros.   

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Maquiando o perigo

Como algumas mulheres conseguem se maquiar dentro de um veículo em movimento? Fico abismada quando vejo algumas delas se maquiando como se estivesse em frente ao espelho do quarto. Sinceramente? Fico nervosa. O pânico se apodera de mim a cada tranco que o veículo dá e, a impressão que passa, é que um olho será furado, um batom será engolido, sem que nada se possa fazer, a não ser esperar pelo pior. Como conseguem? Eu não consigo escrever meu nome com o veículo em movimento, imagina passar rímel? Mas, apesar de ficar apreensiva ao ver essas cenas, admiro quem faça isso, porque demonstra que  tem força de vontade e nada vai tirar o desejo de ficar bonita...nem a possibilidade de perder um olho. Mas, vale a pena correr esse risco? E, se acontece algum desses incidentes, quem pagará pelo prejuízo físico, quem será o culpado?  Vale a pena duelar com o balanço do veículo para o olhar ficar mais insinuante, a boca mais convidativa? Se ocorrer algo desse tipo, certamente, não haverá um culpado a ser apontado, afinal, a beleza exige sacrifícios e desafios; então, nada mais desafiante do que chegar bela, cheirosa e bem maquiada ao trabalho, mesmo que no meio do caminho, a chance de ficar caolha tenha passado por nós.

Facilitar para quê??


A praça repleta de pombos, pessoas aguardando o horário do início de expediente à porta da Prefeitura e, todos – inclusive eu que passava pelo local, prestavam atenção a um homem que tentava tirar desesperadamente a camiseta sem tirar o boné que trazia na cabeça.  Fiquei observando a cena, até certo ponto, engraçada; ele ficava ajeitando a camiseta, com o rosto coberto por ela e, com os dedos ia ajeitando a gola para que o boné não saísse junto.  Fiquei pensando se não seria mais fácil ele tirar o boné, tirar a camiseta e recolocar o boné, novamente? E, não é assim que agimos na vida, normalmente: complicamos para não facilitar? Percebo, cada vez mais, que as pessoas, na pressa de realizar coisas diárias, procuram sempre ir pelo caminho – não mais difícil, mas, com um pouco mais de obstáculos. Ninguém parece querer buscar a solução rápida (ou indolor); a sensação é que, quanto mais demorada a solução, mais festejada ela será, ou, na maioria das vezes, essa solução nem chega a acontecer. Dificultamos o trabalho do próximo quando colocamos regras que nem nós mesmos seguimos; se atrasamos para o trabalho, e somos a única pessoa com a chave da porta, ninguém entrará até chegarmos; se o pagamento mensal do salário depende de uma única pessoa para ser enviado e, na empresa, ninguém mais tem acesso a esse sistema, ninguém receberá enquanto não lançarem a folha; se o ônibus atrasa e não colocam outro para substituí-lo, não se chega no horário ao trabalho. Olhando assim, são coisas passíveis de soluções rápidas, onde ninguém precisa trancar coisas na sua vida ou na vida do outro, mas, que precisam de boa vontade para que aconteça. O conhecimento não precisa estar detido nas mãos de um só; se dois ou três souberem trabalhar em conjunto, com respeito e ética, as tarefas mais rapidamente serão realizadas de maneira eficaz, em tempo hábil e com muito mais prazer. Voltando ao homem da praça, fico pensando se ele conseguiu tirar a camiseta e manter o boné na cabeça, ou, se desistiu da façanha e se juntou a quem passava para jogar migalhas aos pombos, até o expediente começar em mais um dia de altas temperaturas.  

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

"O Turista"

Fui assistir ao filme “O Turista”, com Angelina Jolie e Johnny Deep...amei o enredo. Na verdade, eu nem sabia direito sobre o que era o tema, mas, como ganhei dois ingressos, fui com minha sobrinha para conferir. E, sinceramente, adorei. Primeiro, porque Angelina é linda, com ou sem maquiagem;  apesar de estar muito magra, a elegância, a postura, nos fazem esquecer que está quase pele e osso...a mulher tem algo que não nos deixa desviar os olhos de sua figura, parece um imã que nos prende, nos aprisiona em volta de tanta sensualidade e simplicidade; parece não saber do poder que tem.  Johnny Deep...esse, é “outro”  algo. Ele, até com uma pijaminha de vovô, consegue arrancar suspiros da mulherada; é poderoso, mas, parece não se dar conta disso, não dar bola para esse tipo de conceito feminino; apenas vive o personagem da maneira como lhe foi apresentado.  A dupla, mesmo sem grandes arroubos de paixão, nos faz sentir que existe algo, que há fagulhas a cada troca de olhar. O enredo pode ser fraco, já ter acontecido em outros tantos filmes, mas, é único porque traz dois grandes símbolos sexuais, dois atores que escolhem em que filme irão atuar e nos provam que, mesmo sendo privilégio de poucos, a beleza aliada à inteligência e à simplicidade, é o grande trunfo de quem tem personalidade e sabe usar isso a seu favor. Esse filme, depois de muito tempo, me fez sair do cinema com a sensação de que teve começo, meio e fim, sem que nada tenha ficado sem explicação. Recomendo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Procissão dos Navegantes


A fé está dentro de cada um, com a intensidade que esse indivíduo delegará a sua mente ou, dependendo do caso, a necessidade urgente de um milagre em sua vida. Acompanhar a procissão de Navegantes, para mim, é algo que faz parte da minha vida, algo normal. Desde que me conheço por gente, ou de onde consigo lembrar, minha mãe sempre nos levou e, nunca deixamos de ir; na verdade, ano passado não fui, mas, como estava na praia, não deixei de prestar minha homenagem, na beira do mar. Fico impressionada com o número de pessoas que participam da caminhada, debaixo de um sol escaldante, sob um chão que parece queimar nossos pés. Mas, nesses anos todos, aprendi que existem as pessoas que acompanham por ter fé, por fidelidade e outras, que vão por obrigação, curiosidade ou pelo convite de outra pessoa; existem aqueles que, em meio a tanta emoção e energia, conseguem ficar imunes e aproveitam para colocar o papo em dia, seja com a pessoa que a levou ou, ao celular mesmo. E, acreditem, é uma prática comum ficar falando, fofocando, colocando o podre do outro para fora e, a reza, a devoção, parecem não ter importância nenhuma; o que importa é dizer que foi à procissão, que caminhou e cumpriu sua obrigação de fé – mas, ter fé é uma obrigação? Não acompanho só por agradecimento por tudo que recebo, participo porque, para mim, o ano começa após a realização da procissão, após a passagem da Santa dos Navegantes que, lá do alto do seu andor, parece abençoar nosso dia, aliviar nossa dor e fazer com que nossa fé se fortaleça para que a caminhada não seja tão árdua, o novo ano seja menos pesado e um pouco maia fácil de ser atravessado. Lá, do alto do seu andor, parece nos fortalecer para que estejamos mais fortes no próximo encontro, no próximo fevereiro, sob uma nova manhã ensolarada e escaldante.

Minha infância...quase esquecida...

Estava na lotação e ouvi uma menininha, de uns 06 ou 07 anos, falando com a mãe: “lembro quando eu tinha 04 anos...blábláblá....” e, deixei de ouvir o resto porque me dei conta de que não lembro da minha infância. Claro que não lembro a maioria das coisas, lembro de bem poucas na verdade, mas, como pude esquecer da época em que a inocência imperava dentro de mim? E, juro que não é nenhum caso de infância maltratada, pelo contrário, não poderia ter tido pais melhores, que sempre se dedicaram a mim e a minha irmã, com muito amor.  Esse esquecimento deve ser coisa da minha cabeça mesmo, pois, muitas vezes, as pessoas com quem convivo, começam a tocar em alguns assuntos do passado, pontuando alguns momentos mais relevantes e eu, óbvio, fico com cara de boba, pois tenho que me puxar para lembrar o que vesti na semana passada. Mas, voltando ao papo da menininha, achei legal ela lembrar o que aconteceu há 02 ou 03 anos e, ouvindo ela falar, parecia ter ocorrido ontem. E, como vou  lembrar de uma infância que aconteceu há uns 40 anos atrás? É judiar da memória da “tia”, não é?? O que lembro, mesmo não sendo muito, foi legal para mim: batizados de bonecas – clássico entre meninas que sonham crescer, casar e ter filhos (isso, na “minha” infância); das voltas de bicicleta, dos tombos dos caroneiros, da calça boca de sino enganchada na correia; dos jogos de futebol no “campinho” que, hoje, é uma praça, a qual não é dada muito valor e nenhuma atenção. Lembro das brincadeiras de esconde-esconde, pega-pega, de passar o anel – tudo muito divertido e inocente. E, me perguntei: será que essa menina se diverte inocentemente? Será que é feliz, como eu fui na minha infância de poucas lembranças? O bom de tudo, é que essas poucas lembranças ficaram guardadas no meu cérebro e gravadas no meu coração, fazendo de mim a pessoa que sou hoje, sempre com um “quê” divertido e moleque da criança que ficou para trás, mas, que me tornou um adulto bem resolvido e feliz.

Fúria da Natureza


A natureza não brinca e não tem meias palavras, ou atos, com ela, é  08 ou 80 - ou arrasa ou arrebenta com tudo - e não tem conversa. Age conforme as ações de quem  nela habita e dela depende; quando a seca chega ou as chuvas desandam a cair é uma loucura: incêndios, plantações secas e perdidas, temperaturas altas, consumo de energia nas alturas; inundações, deslizamentos, plantações afogadas e, novamente, perdidas, tragédias inúmeras.  E me pergunto se há algum culpado nisso, onde estão os erros? Fico abismada com o descaso do povo em relação a tudo isso e, quando as ruas alagam e os bueiros entopem, correm para achar um culpado: o Poder Público. Mas, a Prefeitura não mora na minha casa, não sabe o que considero e como separo os lixos, não me impede de varrer a calçada e evitar colocar o lixo dentro do bueiro. Pergunto, também, quem errou ao construir a casa no morro, quem  não fiscalizou; enfim, quem negligenciou a regra básica do cuidado com a vida? Só que, quando grandes tragédias acontecem, não temos que achar culpados, colocar o dedo na moleira do outro e tirar o nosso da reta. O jeito é tentar viver em paz com a natureza, ter consciência de que toda ação terá sua conseqüência e, mesmo aqueles que seguem as regras, pagarão pelo descaso coletivo.  Repensar atos diários faz bem e, certamente, não causa dor; o que faz doer, é ver que vidas acabam sendo dizimadas porque coisas simples não foram feitas, regras básicas foram ignoradas.  Vamos acordar para que a natureza não adormeça e nos deixe eternamente no caos ou, na total escuridão.