Gosto de música. Não tenho um estilo específico – gosto do que me faz bem ao ouvido, daquilo que faz meu pé acompanhar o ritmo que está sendo tocado, daquele som que embala meu coração e me leva a momentos passados (mesmo que a música não tenha sido o tema de nenhum desses momentos); enfim, nada que faça meu ouvido sangrar. Mas, hoje, meus ouvidos sangraram, senti náuseas e calafrios quando, às 07h20min da manhã, adentrei em uma lotação ao som de um pagodaço – o som não estava baixo a ponto de não se ouvir, nem tão alto que me fizesse “apear” correndo e ir caminhando até o centro. Na verdade, estava na medida certa para que o arrependimento por não ter “ainda” comprado um “MP qualquer número” batesse furiosamente na minha consciência – enquanto o som rolava, minha mente dizia: bemfeito, bemfeito,bemfeito...assim, as duas palavrinhas bem grudadinhas para um efeito melhor. O motorista, alheio ao meu desespero, dirigia bem faceiro, curtindo o som do grupo que tocava – me desculpem os apaixonados pelo estilo, mas, no pagode e no axé, todos os “cantores” têm a mesma voz e a batida tem o mesmo ritmo; ele parecia estar fora do mundo em que eu lutava desesperadamente para ignorar e estava feliz e, mesmo sentindo uma vontade imensa de levantar e pedir ao jovem condutor que baixasse um pouco mais o som do CD, pois pagando R$ 4,00 me achava no direito de pedir isso, pesou o pensamento no estress que ele enfrenta no trânsito, dos motoristas malucos que o desafiam diariamente e, cheguei a conclusão de que esse, de repente, era o momento feliz dele. Então, se as músicas o ajudavam a desempenhar melhor o trabalho, era melhor eu desviar meu pensamento e me deixar entrar no pagode (mentalmente falando, ok?); deixei o ritmo me envolver e, acabei tendo uma visão de mim mesma vestindo um micro short branco, um top bem top mesmo, saltão, sorrisão no rosto e olhar de quem está avulso na festa – nesse devaneio estou lindona ( e, essa parte agradeço ao ritmo que sangrou meu ouvido). E, até meu desembarque, fingi que esse era, também, o meu mundinho; mas, sinceramente, pela primeira vez, voltar ao mundo real foi muito bom!
PS.: No retorno para casa, MAIS pagode, em outra lotação. Ninguém merece essa dose cavalar de “bom gosto e ritmo” num mesmo dia!