terça-feira, 1 de novembro de 2022

TENTANDO "SER" IDOSA

 




      Quando era mais jovem e ouvia falar que “é bom envelhecer”, sempre imaginei que, chegando a tal “melhor idade”, faria as mesmas coisas que minha avó e minha mãe costumavam fazer: cuidar dos maridos, da casa, dos filhos e, como distração, se atracavam nas agulhas de crochê e tricô, enchendo os netos de roupas quentinhas, todas trabalhadas nos mais incríveis detalhes e, para não deixar nada para trás, a casa era toda enfeitada com lindos trilhos de crochê e conjuntos que coloriam tudo.


     Posso dizer que minha mãe era, para a época um pouco fora do padrão, não porque não fizesse tudo o que coloquei aqui, mas, porque trabalhava fora, ajudava nas despesas da casa, nos orientava da melhor maneira que podia, parecia estar sempre um passo a frente das mulheres da idade dela. Não era perfeita, mas, era o exemplo de mulher que eu queria ser quando crescesse e tomasse consciência que, para tudo que desejamos fazer, existe um obstáculo a ser ultrapassado. Era guerreira, ilimitada, plena e, com certeza, uns 50% de tudo isso foi deixado no nosso DNA – meu e de minha irma.


    Mas, hoje, não me sinto dentro do grupo das senhoras de 50-60 anos. Não sou jovem o suficiente para enlouquecer ou madura demais para me sentir idosa. Ás vezes, fico pensando se as senhoras da minha idade também passam por isso, por dúvidas, por receio de serem julgadas, por medo de não fazer valer a verdadeira idade. O pior, é sentirmos que temos limitações, tipo, não posso correr muito porque cansa, fico mais ofegante que o normal; se subir em uma escada a tontura vem e haja habilidade para não despencar no chão; se rir demais o xixi desce sem dar tempo de chegar ao banheiro; as dores ficam mais comuns e quase diárias; os olhos já não ajudam na leitura, na distância, perto demais...e, mesmo dentro de todo esse panorama descrito por mim, ainda não me sinto pronta para ser “idosa”, para deixar o cabelinho todo branco, colocar um avental e ir para o fogão fazer gordices para o povo.


    O século XXI está aí para que possamos sentir o doce da vida e não o peso da idade. Somos seres únicos e prontos para viver. Somos luz e energia. Somos pura teimosia, pois, mesmo os limites batendo na nossa porta, continuamos a fazer o que sempre fizemos, com um pouco mais de lerdeza, mas, com muito mais vontade de quebrar barreiras.


    Às vezes, bate o medo. Medo de tudo acabar e não ter mais tempo de fazer as coisas que gosto, de curtir mais meus amigos, de estar ao lado da minha família, de levar meu Forks para passear – ele também já tá na faixa idosa. Mas, se permitir que todos esses pensamentos me apavorem, o tempo fica menor e a dose da Sertralina aumenta. Então, vamos levando a vida e deixando ela nos levar, porque ela é bonita, é bonita e é bonita.

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