sexta-feira, 28 de outubro de 2022




Hoje, não sei o motivo, me descobri órfã. Perdi meus pais: minha mãe há 19 anos, quando ela tinha somente 59 e, com certeza, tinha ainda muita vida pela frente; meu pai se foi há 05 anos atrás, com 84 anos e, mesmo já tendo vivido muitas coisas boas ou não, acho que dava para ir um pouco além dos 84. 

Percebi que não fiquei órfã apenas da presença física, mas, fiquei órfã do abraço apertado, da gargalhada contagiante, do olhar de ternura, do conselho certeiro, da bronca, do deboche, de muitos momentos que, agora, existem apenas nas minhas lembranças e, juro, tento manter tudo vivo dentro do meu coração. Não posso - e nem quero, esquecer tudo o que sempre nos uniu, tudo que meus pais deixaram como herança para que pudéssemos seguir nossos caminhos andando sobre os seus passos.

Eles eram tão diferentes e tão iguais que, as diferenças de um acabava completando o outro e, assim, seguiram juntos por mais de 40 anos, numa relação cheia de altos e baixos, de superações, de companheirismo.

Sinto uma falta enorme deles. Faz falta chegar em casa e saborear um chazinho com bolachas, contando meu dia e acompanhando o vai e vem das agulhas de crochê nas mãos prendadas da minha mãe, me sentir aconchegada e em casa. Faz falta ver meu pai todo faceiro, enfeitado e perfumado para o baile de domingo e eu dando conselhos: avisar quando chegasse lá e quando estivesse saindo, para esperar com a luz da rua acesa e, enquanto não chegasse, eu não dormia.

Eles eram minha base, eram a certeza de que eu, mais adulta, iria compensá-los por tudo o que nos proporcionaram, dar conforto e tranquilidade. Só que a vida não nos dá um manual de como proceder, de quando vamos nos separar de quem amamos, não nos avisa quando nos dará uma rasteira e, só nos resta aceitar suas regras, tentar andar nessas linhas loucas e irregulares que ela coloca em nossos caminhos.

E, sem instruções, ela nos tira, mas, acho que com dó de nosso sofrimento, tenta amenizar nossa dor e envia anjos que, por incrível que pareça, não deixamos de sofrer, mas, o sofrimento acaba amenizado pelo sorriso encantador da infância que começa a surgir na família, acendendo novamente a esperança de momentos de muito amor e ótimas lembranças.

Que meus pais recebam sempre nosso amor no plano em que se encontram.

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