No feriado, estava sentada em frente a minha casa, descansando de não fazer nada e, fiquei impressionada com o diálogo que ouvi, de três crianças (duas meninas e um menino) – nenhuma das três com mais de 10 anos, que estavam sentadas na calçada. Uma disse para o garoto: “-ela disse que não gosta mais de ti”. O garoto, uma coisinha baixinha, magrinha, mas, já com aquele instinto masculino de não ser deixado de lado por mulher nenhuma – por menos idade que a mesma tenha, respondeu muito ofendido: “eu que não gosto mais dela; prá mim, ela é lixo.” – perceberam o quão adulta foi essa declaração? A menina para não se rebaixar, entrou na conversa e defendeu seu lado, claro: “lixo é tua mãe” e, a baixaria começou – acreditem, ficou pior. Xingamento para cá, xingamento para lá e, eu, só observando, imaginando onde havia ficado a inocência dessa infância tão sexualizada, tão bombardeada por uma realidade violenta, onde fazer sexo com o primeiro que aparece é natural, ter filho aos 13, 14 anos, é normal e matar por matar é corriqueiro. Fiquei lembrando de quando eu tinha 10 anos e me reunia com os primos, jogava futebol, corria para cima e para baixo sem medo de levar bala perdida, subia em árvore para pegar ameixa – aquela amarelinha, doce ou azedinha, mas, que deixou um gosto de uma infância repleta de amor, tranqüilidade e momentos inesquecíveis. Com 14 anos, era completamente abostada para os padrões atuais, pois – podem rir, se quiser - ainda brincava de boneca, fazia batizados com Ki Suco e bolacha Maria, brincava de chacrete, enfim, apesar de parecer tudo meio idiota, era muito divertido e, sinceramente, não trocaria toda essa adolescência problemática atual pelos momentos de simplicidade e harmonia que existiam nesses verdadeiros momentos de relaxamento e lazer. Hoje em dia, se um não quer acompanhar a brincadeira do outro, já leva uma surra; se uma palavra não é bem entendida, já desfilam uma lista de palavrões que, muitas vezes, eu nunca ouvi e nem sei o que significam; se não emprestam a bola, são capazes de furá-la para vingar o momento perdido do futebol da rua. Então, fico pensando: onde está a infância que sonhamos para nossos filhos, sobrinhos, netos? Será que é essa loucura toda que aguarda essas crianças que têm nosso sangue correndo em suas veias? Será que essa violência constante será, também, parte do futuro deles? É horrível estar sempre em alerta, estar sempre de cabelo em pé, com medo do que possa acontecer com alguém próximo a nós...Mas, a única coisa que ainda não nos tiraram, é a nossa fé e, é nela que nos agarramos para continuar acreditando que esse mundo ainda tem solução. Mesmo para essas crianças que parecem já ter se perdido.
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