terça-feira, 19 de abril de 2011

A Garota da Capa Vermelha

Adoro estórias infantis. Gosto daquele clima de inocência, de que tudo se pode conquistar e, claro, alcançar, apenas sonhando. A Branca de Neve, branquinha como a neve, sem nunca ter chegado na beira do mar, queimado a sola dos pés na areia quente; cabelos negros, lisos, como uma gueixa e, naqueles tempos, nem mesmo sabiam que o Japão existia e, lábios vermelhos, como o vermelho de uma rosa ou uma deliciosa maçã...e, com uma maçã, acabou envenenada pela madrasta invejosa e temerosa de perder o posto da mais bela do reino, mesmo que isso significasse nunca ter o coração do Príncipe, a devoção de 07 anões ou, ter o acompanhamento de pássaros entoando cantos lindos de dar inveja a qualquer tenor internacionalmente conhecido.  Enfim, se formos analisar a estória de um ângulo adulto, veremos como a hipocrisia já se fazia presente nesse tempo e, claro, a maldade também. Ser bonita sempre incomodou,  a insegurança sempre existiu e o medo de envelhecer é mais que antigo; uma mulher mais velha quer se livrar de uma suposta concorrente, tentando matá-la; um caçador generoso lhe poupa a vida e ela foge para dentro da floresta, descobrindo uma casa pequena, com pequenos habitantes que, mais tarde, vieram a ser seus amigos, mesmo que, no tempo em que passou na casa deles, tenha lavado, cozinhado, costurado, enfim, tenha sido a linda empregada que todo homem quer.  Onde está a beleza dessa estória? Cadê o desenrolar apaixonante, envolvente? Claro que as crianças gostam de ler sobre isso – as meninas querem seu príncipe e, os meninos, querem ser o salvador da bela donzela e ganhar seu coração. Mas, nós adultos, não caímos mais nessa; a estória, mesmo fictícia, tem que ter seu mistério, seu suspense, sua parte engraçada, seu momento envolvente e, prender nossa atenção. Aí, chego ao filme “A Garota da Capa Vermelha”, uma reinvenção de Chapeuzinho Vermelho, sem a cestinha cheia de bolinhos para a vovó que mora no meio do nada, ou um lobo-bobo que come a  velhinha e fica a espreita da netinha, para abatê-la também e, num momento desastroso, acaba sendo morto pelo lenhador. O filme é uma versão adulta, com um certo suspense e aquela vontade de levantar no meio do filme e dizer quem é o seu suspeito, mesmo que existam 3 ou 4 deles;  a fotografia é meio triste, pois, traz um cenário no meio de uma floresta fechada, com um vilarejo repleto de casas de madeira e seus habitantes parecendo deitar e levantar com a mesma roupa. O que me chamou a atenção, na verdade, foi a autora ter conseguido tirar o foco infantil do conto e dar a ele um tom adulto, com a disputa pelo amor, a tentativa de enfrentar seus medos e enfrentar aquilo que não vemos, mas está ali, pronto para nos atacar. Não é assustador, não nos faz dar gargalhadas, mas, nos faz perceber que ainda tem gente que busca inovar e mexer com nosso imaginário, trazendo bons momentos a nossa vida. Gostei do filme e, para quem gosta do gênero sombrio, recomendo.        

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