Em um bosque, havia uma linda casa onde vivia uma senhora chamada Esperança, muito boa para todos os que a conheciam e, muito gentil para quem passava por lá e precisava de uma noite de sono e uma suculenta refeição. Numa bela manhã de sol.....
- Bom dia! Tem alguém em casa? – perguntou um simpático velhinho, de barbas longas e brancas e olhos muito espertos, conhecido como Senhor Forks.
Sem resposta. Silêncio total. Ele entra na casa – pois a porta estava sempre aberta para receber quem ali chegasse – e vê alguém em frente à janela, fechando as cortinas, estranhando a casa tão sombria e triste. Pensando ser a dona da casa, aproxima-se e toma um susto: uma bruxa horrível sorri para ele e diz:
- Sim, tem gente, seu Panaca! E, um som estridente sai de sua garganta, uma risada capaz de ensurdecer que a ouvisse.
Senhor Forks, com tamanha surpresa, consegue sair correndo para pedir ajuda e encontra um empregado da Senhora Esperança, que cuida da horta, jardim e galinheiro e, que carinhosamente, é chamado de Zóio por ela – pois, ele tem olhos grandes demais para seu pequeno rosto - pega o homenzinho pelo braço e, enquanto se afastam, o velhinho consegue contar o que aconteceu. Depois de conversarem, decidem voltar à casa e, desta vez, o empregado entra silenciosamente. Mas, a bruxa está alerta:
- Procurando alguma coisa, xereta?? – E, toca no braço dele.
- Aaaahhh! Não encosta, sua melecona verde....Onde está a dona da casa? – O coitado tremia de pavor.
- Calma, meu chuchuzinho.....vamos tomar um chá e conversar, nos conhecer melhor, certo??
- Onde está a Senhora Esperança? – Agora, sua voz saiu com um pouco mais de coragem.
- Se não parar de perguntar, nunca mais verá a “sua” Esperança, entendeu?
Para tentar enganar a bruxa, ele finge que concorda com o que ela propõe.
- Tudo bem, entendi – Sentam e tomam chá.
Enquanto tomam chá, o velhinho está na cozinha, espiando, bem escondido, esperando uma oportunidade para procurar pela casa.
- Bem, depois deste chá gostoso, que tal uma volta no bosque?
- Para quê? É lá que está minha patroa?
- Patroa, patroa. Que droga! Só sabe falar naquela coisa branca, estúpida e horrorosa, que não serve para nada. – Diz a bruxa, furiosa.
- Por favor, diga o que fez com ela? Ela é uma boa pessoa, nunca fez mal à ninguém.
- Não me interessa! Não gosto de gente bondosa, de gente que vê tudo azul todos os dias, de pássaros que cantam, cachorros que latem; enfim, não gosto de coisas que fazem bem. Não gosto de gente como vocês. Gente como vocês, estragam minha floresta, matam minhas ervas, afugentam meus bichos peçonhentos.
Senhor Forks, indignado, não consegue segurar sua raiva e entra na sala, deixando a segurança de seu esconderijo e, grita para a bruxa:
- O que fez com ela?
A bruxa se refaz do susto e grita:
- Mas, o que é isso? Como ousam invadir minha casa? – Grita ela.
Com tamanha fúria, os dois se encolhem, assustados. A bruxa se aproxima, olha bem dentro dos olhos dos dois, pensa um pouco e diz:
- Muito bem. Vocês querem a tal senhora? Ok. Fechem os olhos e se concentrem. Zum, Zum, Zara, Zara. Quero ter uma outra cara! Pronto. Podem olhar.
Os dois abrem os olhos aos poucos e, quase desmaiam de susto com o que está a sua frente.
- Mas, mas...é a senhora mesmo? – dizem os dois ao mesmo tempo, como se tivessem ensaiado a pergunta.
- Não, estúpidos! É uma perereca perneta. Claro que sou eu.
Não muito convencidos, resolvem desafiar a mulher:
- Então, só para ter certeza, qual o seu prato favorito? – diz Zóio, todo desconfiado.
- O quê? Estão duvidando de mim?
O velho responde, suavemente.
- Não, nada disso. Só queremos ter certeza de que é a Senhora mesmo.
- Hummmm.....ok...meu prato favorito é, deixa eu ver..hummmm...é...é...ah, já sei: pernas de aranha com rabo de lagartixa e língua de sapo com molho de suco de jacaré. Ah, ah, ah!!!!
- É a bruxa disfarçada – diz Senhor Forks.
- Bem, cansei de papo furado. Vou deitar um pouco e vocês dois sumam daqui, antes que eu resolva ser muito má e prender os dois comigo, também.
Sem esperar pelo final da frase, os dois saem em disparada e, se afastam rapidamente da casa. Sentam para respirar e Zóio, diz:
- O que ela quis dizer com “prender a gente também”?
- Não sei, mas, percebi que ela carrega uma pequena garrafa pendurada na cintura. O que será que tem lá dentro? – diz o velhinho.
- Vamos descobrir – diz um quase corajoso Zóio.
Então, depois de algum tempo,os dois retornam novamente à casa e, pé ante pé, vão direto ao quarto da Senhora. A bruxa roncava, resmungava e babava. O cheiro de ”pum” era insuportável. A garrafa amarrada na cintura, pendurada por uma corda e caindo para um lado da cama, estava quase encostando no chão. Zóio chegou bem perto, cortou a corda e correu com Senhor Forks para a cozinha.
Colocaram a garrafa na mesa e tiraram a tampa e, de dentro, começou a sair uma luz forte, uma fumaça colorida e um cheiro de flores e mel, que os leva flutuando até o quarto, novamente. Na cama, está a Senhora Esperança, assustada, deitada no lugar onde a bruxa havia estado antes.
- Que bom que a Senhora voltou! – diz Zóio, todo feliz.
- Tive um sonho horrível; eu era verde, muito velha e fedorenta. Espera aí, como assim, voltei? Voltei da onde?
- É uma longa estória.....depois contamos – diz o velho.
De repente, ouvem um grito vindo da cozinha e correm para ver o que é. Na mesa, a luz da garrafa começa a escurecer, sentem um cheiro ruim e ouvem uma risada nojenta da bruxa. Não. Não era riso, era choro. A bruxa chorava de raiva, enquanto era sugada para dentro da garrafa e dizia, furiosa:
- Vocês me pagam...eu voltarei....
O velho correu e colocou a tampa na garrafa, trancando a bruxa para sempre. E, a casa voltou a ficar iluminada, provando que quando existe amizade e pureza, tudo é mais simples e melhor.
PS.: Dei uma melhorada na estória, porque, quando a escrevi, em 1999, ela foi feita para 04 fantoches que havia comprado para minha sobrinha e, nos divertíamos encenando com se fosse uma peça de teatro.
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